Eu não vou mudar a foto de perfil do meu facebook

     Eu não vou mudar a foto de perfil do meu facebook. 

     128 mortos, 352 feridos: foi o que o atentado de autoria assumida pelo Estado Islâmico deixou em Paris, capital da França, na noite de ontem. Uma tragédia, de fato; Para o país, a pior desde a Segunda Guerra Mundial.

      Eu não deixo de apoiar àqueles que resolvem mudar suas fotos de perfil de redes sociais devido ao ocorrido, pensei em mudar a minha também, entretanto, não posso fechar meus olhos diante da realidade de nosso país. 

    A mídia brasileira está voltada aos países desenvolvidos. Esquece-se de nossa situação, e esquecemo-nos dela também. Somos, constantemente, manipulados a pensar da maneira a qual a mídia escolhe. Vejo todos falando sobre Paris, orando pelos mortos, postando fotos amigas, mas e nosso país, como está? E a tragédia de Mariana? E as pessoas que, aqui, morrem injustamente a cada minuto? Quantas pessoas a homotransfobia matou hoje? E as diferenças sociais? E a corrupção? E as vítimas da intolerância religiosa? Do racismo? E o feminicídio? O Infanticídio? O Uxoricídio? E as pessoas que morrem aos poucos, todos os dias devido ao uso drogas, meu Deus?? Por que a nossa atenção, nosso esforço e nosso apoio são quase inteiramente destinados àqueles que a mídia escolhe? Entendo que foi, inegavelmente, uma tragédia das mais infelizes o que ocorreu em Paris, mas nos falta um pouco de nacionalismo para destinar ao Brasil, ao local o qual nós, brasileiros, nascemos e vivemos, para destinar à nossa realidade, às nossas pessoas.

     Em 2014, o Brasil bateu o recorde histórico de homicídios, 56.337 mortos. 56.337 famílias que perderam entes queridos. 56.337 pessoas que tiveram suas vidas ceifadas, e que foram impedidas de começar uma família ou de dar continuação à própria. Podem ter sido 56.337 famílias que dependiam, cada uma, de uma pessoa para sua sobrevivência e que, também tragicamente, como em Paris, a perderam. 

     No Brasil hodierno, existem 33 milhões de pessoas sem moradia. Metade delas podem ser crianças, por exemplo. Mas todas elas são ignoradas por nós. Somos egoístas com quem não deveríamos ser. Quantas vezes ignoramos pessoas nas ruas, pessoas carentes, pessoas sozinhas e que precisam do nosso apoio(apoio esse, que nós somos privilegiados em poder oferecer)? Poderia ser você.

     E tem mais. Se eu pesquisar um estado qualquer no google, vou encontrar notícias sobre pessoas que foram mortas há pouco tempo. Que atenção damos a isso? Será que esqueceu-se a importância de tudo isso porque tornou-se rotineiro, "normal"? Eu tenho uma notícia: Isso não é normal e deveria ser mais tratado, deveria ser tão importante quanto o atentado em Paris, importante ao ponto de fazer que as pessoas mudem suas fotos com a bandeira do país atingido, como é o caso.

      Deixo-lhes com a seguinte frase de Che Guevara:

“Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário.”

      É triste, é lamentável. Mas precisamos abrir os nossos olhos e precisa ser agora.


Sinestesia?

Aquela foto do Tumblr 
Era o que ofuscava a luz.
Calma em seus olhos trazia
junto à preocupação, que ali jazia,
sempre perscrutando.

De longe não era perfeito.
Difícil, porém, foi achar gritante defeito.
Era inquieta, a alma;
branda inquietude.

Era o misto de branco e preto,
da regra a exceção.
Era sempre soma,
nunca subtração.

Me deixa ser imensidão.

                                         Fotinha maravilinda do Tumblr 

Me deixe ser amor. Me deixe ser a paz do que restou. Me deixe ser tudo, só não me deixe. Me deixe ser o café do sábado à tarde, a leitura prazerosa da sexta à noite, o amor da quinta série e os passeios de bicicleta das manhãs de fim de semana.

Me deixe ser imenso, me deixe ser mar. Mas, por favor, não me permite ter medo de amar. Me faz onda e mergulha em mim sem receio. Mergulha como se eu fosse a última parcela d'água do planeta Terra, como se fosse hoje a primeira e última vez, que água, de novo, tu não achas; E também eu, em minha descomplicada existência, alguém que me mergulhe tão intensamente, não irei mais experimentar. 

Hoje, nos faz infinito, não nos deixe entrar em atrito; Só nos deixe consubstanciar. Não me deixa ser subtração; Soma-me. Soma a mim como se não tivesse escolha, mas soma de bom grado. Deixa-me ser teu abraço mais apertado, o beijo que implora para ser dado. Me faz de vítima, me faz de vilão. Apenas me faz e, se possível, me deixa fazer também, tá?